segunda-feira, 16 de maio de 2016

Prestar ao povo

Atuar no jornalismo não é tarefa fácil, a mim mais difícil ainda é atuar na televisão, isto porque envolve toda uma relação imaginária que cerca a cabeça das pessoas de um modo geral.

 Mas nada é mais impressionante do que perceber que informação é o instrumento incrível na vida das pessoas.

É aterrorizante constatar a inocência de um ser e sua impossibilidade de reconhecer as instituições mais importantes em uma nação. O brasileiro comum sabe que existe a justiça e uma rasa quantidade de pessoas sabe da existência do Ministério Público, uma das instituições mais sólidas do nosso país, quase ninguém sabe que existe uma defensoria pública, uma ouvidoria de alguma coisa, mas muita gente da imprensa, para que serve, por isso a imprensa está servindo aos cidadãos desamparados pelo Estado como seu porto seguro para pedir socorro, o povo quer atenção para seus dilemas pessoais que são gerais, que estão por todo lugar.

O papel da imprensa nestes casos é de uma dimensão gigantesca, mas é claro, a imprensa que se presta ao povo. E a imprensa que se presta ao povo reconhece com o passar do tempo o quanto ainda precisa prestar para que este reconheça as instituições criadas para o seu servir, esse tempo não tem limite, não tem fim.


Isto porque a maior fome do povo é por informação, o remédio do povo é informação, por isso que informação é imprescindível, é como tudo que sentimos, tudo nos informa algo, tudo é mensagem, tudo nos diz algo, algo que nós devemos dizer ao povo, informar ao povo, trata-se de um dever moral, e nada mais importante do que isso.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Eles não querem liberdade

    É estarrecedor abrir a Folha de S. Paulo e saber que uma equipe de jornalismo foi lamentavelmente impedida de realizar seu trabalho porque autoridades da Indonésia a detiveram por alguns momentos e retiveram passaportes dos profissionais. Evidentemente é natural que eu, enquanto jornalista, sinta completa indignação com o episódio, mas nada é pior do que ler o inverso.
     Observar a opinião alheia é um hobbie bem particular, e como tal, sempre externo algumas conclusões verbalmente ou não. De modo que não é incomum constatar o quanto há de contradição nas pessoas de um modo geral. Quer dizer, ver centenas e centenas de internautas no gozo de sua ‘liberdade de expressão’ apoiar claramente e até defender o assassinato dos mesmos jornalistas é extremamente contraditório. Posto que enquanto concordam e defendem a tirania contra a liberdade de imprensa, o fazem unicamente porque são (ainda) providos de alguma liberdade.

    Isto, de todo modo reflete convergentemente para um termo que normalmente esses mesmos internautas saúdam: a democracia.  Mas que democracia?  Notadamente o público diversificado como ele é, mas ao mesmo tempo uníssono para desejar ‘democracia’ clama pela idealização dela, não sua versão pragmática que a cada momento altera-se para mais ou para menos, mas o mais politicamente correto possível, talvez por um pouco de medo do julgamento alheio.

     Cairia muito bem uma (nem que breve) reflexão que oferece Robert Dahl ao tratar de democracia. Quando a Grécia antiga vivia uma ‘democracia’, quando tudo não poderia ser feito, e participar da vida política era prerrogativa de homens livres e acima de 21 anos, você poderia tomar o impulso e exclamar: Mas isso é democracia? Bem, eles excluíam escravos, mulheres e estrangeiros do processo político, mas definiam seu sistema amplamente democrático tal qual acreditamos que hoje façamos parte de um.
     Muitos outros, inclusive, apoiaram uma hipotética censura ao humor no quesito religião. Essas pessoas que julgam fortalecer um regime democrático agora concordam que deva ser obrigatório não fazer piada e ou não externar livre manifestação sobre religião. Na vida prática seria: Você não poderia ridicularizar nenhuma religião, os governos imporiam um dogma universal e por mais que você não dê a mínima para uma religião, você não pode ‘desrespeitá-la’ e pronto, mas sua convicção pessoal poderia ser arbitrariamente censurada.

     Batizada na igreja católica e adepta do Cristiano sim, mas evidentemente nada me leva a amordaçar alguém se ele quiser fazer ‘picadinho’ da imagem de Cristo enquanto figura fundamental para o catolicismo.  Se assim eu fizer, não estou sendo cristã, estou sendo apenas tirânica e impondo minha crença sobre a opinião de outro individuo. O livre arbítrio é um belo exemplo de direito de escolha, mas perfeitamente espera-se decisões morais dignas.  Por mais que criticar uma religião não seja tido moralmente aceitável, mais imoral é sem dúvida calar a convicção do outro porque você não acredita ser agradável.

     Não, eles não querem liberdade e esse é o nosso maior problema, haja vista ser imprescindível a evolução do pensamento filosófico de cada indivíduo para o aperfeiçoamento da civilização. De outro modo, estamos a passos curtíssimos, quase parados enquanto aqueles espalham verborragia para justificar o retrocesso em forma de respeito. Respeito à tirania que agora dão o nome de ‘politicamente correto’, mas uma extravagância moral que desvirtua o maior sinônimo da evolução humana: a liberdade.

sábado, 12 de julho de 2014

Um grande plano “abrasileirado”




A surpreende popularidade atribuída à seleção alemã de futebol ao longo da Copa do Mundo realizada no Brasil, tem explicação. Quando se trata de um “produto midiático”, toda a relação de imagem acerca deste produto é proveniente de arranjos da comunicação.
Reprodução/Instagram
A construção, a disseminação e a confirmação de uma imagem pública é um mecanismo superficial e ordenado de direcionamento da percepção. Isto é, não se pode estabelecer exatamente como cada indivíduo irá perceber a realidade em sua volta, pois a subjetividade atmosférica impede essa possibilidade, no entanto, é possível oferecer quais e de que forma o conteúdo deverá entrar em contato com a percepção de cada ser humano.
Sabendo disso, a Deutscher Fussball – Bund (Federação Alemã de Futebol), juntamente com a fabricante de material esportivo, Adidas, lançou alguns meses antes do mundial da Fifa, sua primeira grande jogada de marketing, o seu segundo uniforme, que conforme a própria federação, é uma homenagem ao clube brasileiro, Flamengo.
O primeiro grande gol foi efetivamente o sucesso de vendas, milhões de unidades da camisa foram comercializadas no mundo, o que elevou o faturamento da Adidas para cerca de 30% em comparação com a Copa na África do Sul, que conforme representantes da empresa, gira em torno de 2 bilhões de euros. De acordo com Tom Ramsden, diretor global de marketing da adidas futebol, o sucesso da marca já entrou para a história da empresa e foi a marca mais falada durante o torneio. Mas não é só isso.


O plano de comunicação montado para a federação alemã é sem dúvida alguma, um case de sucesso, e para que assim fosse, fora feito um estudo acerca da cultura brasileira e então dado evidência aos seus costumes mais popularizados hoje. Isso tudo ao se fazer uso da semiótica, isto é, uma conscientização clara dos símbolos e o quanto eles são relevantes para a nossa percepção.
Pierre Bourdieu define “poder simbólico” como o poder invisível responsável pela “imigração de ideias” onde as consciências o exerce sem ter de fato conhecimento dele, contribuindo para os movimentos sociais e culturais entre os indivíduos.
A formidável aceitação do uniforme inspirado no Flamengo é uma amostra do quanto a simbologia participa da cultura brasileira. Imediatamente, qualquer indivíduo, mesmo sem a consciência de tratar-se de uma ação de marketing, associa a camisa ao clube brasileiro.
“Índios pataxó”, “Lepo Lepo”; “novela”; “praia”; “Sabe de nada, inocente”; “Bahia”; “português”; “ações beneficentes”; “declarações de apoio e incentivo a seleção e ao país de um modo geral”, “campanha áudio-visual”, tudo potencializado e “viralizado” via imprensa e redes sociais.
Agir como brasileiro fez com que jogadores como Lukas Podolski, Lahm, Ozil, Schweinsteiger e outros, recebessem a admiração da opinião pública, exatamente porque trata-se de uma identificação e um reconhecimento da valoração dos costumes locais por esses “atores” midiáticos.
Não há dúvida de que há sim simpatia alemã, contrariando o que se pensava sobre o conduta mais fechada do povo alemão. Mas só foi possível desconstruir essa perspectiva junto a opinião pública brasileira, a partir de uma gestão de imagem, capaz de fazer com que o país conhecido pelo futebol, ainda que presenciasse o episódio cuja maior derrota de seu país no futebol foi proporcionada justamente pela seleção alemã, não deixou de admirá-la cada vez mais.
Talvez a seleção alemã na Copa do Mundo no Brasil, realizou tudo aquilo que o brasileiro esperava que fosse proveniente de sua seleção. Ou seja, enquanto que a opinião pública nutre frustração a respeito da seleção brasileira, adota para si, ídolos de outra seleção, pois o trabalho de marketing deu-se de uma forma tão bem sucedida, que nem mesmo uma derrota histórica é capaz de diminuir essa relação de aceitação.
A campanha de marketing após um estudo de comunicação é inédita para um evento como esse no Brasil, não se tem notícia nem nesta Copa do Mundo, de outra seleção que tentou incorporar os hábitos brasileiros como a federação alemã de futebol. 

O casamento perfeito está pronto: Alemanha x Argentina no Maracanã, com a camisa inspirada no Flamengo, é um sucesso garantido. Talvez, nem mesmo se esperasse um cenário tão propício para fechar a melhor campanha de uma seleção estrangeira na Copa do Brasil, muito além da própria seleção brasileira, além de tudo, a Alemanha oferece o futebol que o Brasil tão valoriza.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Construindo destinos

Mais intrigante do que se perguntar como alguns eventos tornam-se realidade é não entender como isso ocorre. Será que ninguém consegue absorver um mínimo que seja de lucidez para compreender o que acontece diante do próprio “nariz”? Quase ninguém consegue, e isso não é o pior.
O pior é conhecer o passado, errar no presente e esperar um futuro longe de tudo isso. O nosso erro é antes, durante e depois, depois sim. Lamentar-se por não ter feito por que não quis? Isso é errar de novo.
É desse modo que construímos nosso destino e ainda o acusamos de independência, uma tremenda injustiça, por sinal. Então perceba, está é mais uma oportunidade de recuperar a lucidez, de fazer direito, de querer.
A sua vida é uma gigantesca análise combinatória e, é sim, a matemática tem tudo a ver com isso, basta exclusivamente perceber a variedade de caminhos que podem ser percorridos e finalmente onde eles o levarão.
Essa obviedade é somente e tão somente para você ajudar o seu próprio coração, o oferecendo a sua dedicação. Não é difícil, não é um esforço desgastante, faça bem ao seu coração. Se for necessário, mude o rumo, altere o foco, pode ser doloroso, mas passa e talvez seja o melhor a se fazer.
Ainda que o seu encanto por qualquer coisa o choque pelo confronto com a realidade distante de tudo que você imaginou, salve o seu coração de um destino improvisado, construa-o com seu esforço de querer bem e faça algo por isso, toda e qualquer estrutura sólida e duradoura exige muita concretude e “concreto”.



quarta-feira, 8 de maio de 2013

De Humboldt para o Estado





"Aquilo que pertence  peculiarmente a cada um por natureza é melhor e mais agradável a cada um e, consequentemente, (é mais agradável) para o homem a vida de acordo com o intelecto , se o intelecto  especialmente constitui o homem. Essa vida por conseguinte é mais feliz" (Ética de Aristóteles).

De forma admirável, há mais de dois séculos, com os mesmos 24 anos que tenho hoje, o jovem alemão Wilhelm Von Humboldt demonstrou competentemente sua concepção a cerca do pensamento liberal.  Em “Ideias para um ensaio de determinar as fronteiras da eficácia do Estado”, obra publicada após sua morte em decorrência também do receio da censura prussiana,  Humboldt não se ateve à economia, como se pode pensar a princípio, nem mesmo citou. Mas discorreu a respeito das relações humanas e a interferência do Estado no prejuízo dessas relações.

A valoração das constatações de Humboldt é perfeitamente cabível no cenário brasileiro, embora estejamos na chamada era “pós-moderna”, da qual poderia supor-se o pleno amadurecimento do pensamento global. Mas o que ocorre ainda não é uma sábia retração das atribuições do Estado. No Brasil, parece haver um aumento dessas prerrogativas, demonstrando haver um legítimo retrocesso.

A limitação da liberdade do cidadão está amparada em dois vieses: ou na necessidade de preservar as garantias constitucionais da carta magna, ou na ótica de prover preservada a condição física e moral dos membros da nação.  Ao tratar sobre intervencionismo em sua obra “As seis lições” Ludwig Von Mises, contemporâneo das perspectivas de Humboldt, diz que compete ao governo realizar o que lhe foi estabelecido ao ser instituído: proteger as pessoas da violência civil e de possíveis inimigos externos.

Desde já, essa é uma ideia compartilhada por Humboldt, ou seja, o Estado tem o dever fundamental e restrito a se responsabilizar por oferecer segurança pública.  Ao evitar que se possa fazer “justiça com as próprias mãos”, o Estado tem a função de mediar a justiça através de punições como consequência de delitos.  O que não ocorre perfeitamente no Estado brasileiro.

Nem mesmo o fundamental é possível, dados (oficiais) revelam que no Brasil, a média é de 20,4 homicídios por 100 mil habitantes, dado que aumenta ao se considerar a esfera estadual.  Peca ainda mais na tutela do detento, apenas 22% dos presos no sistema prisional brasileiro exercem algum tipo de atividade. A cada 10 detentos, apenas um recebe educação, o que em outros termos, fortalece a ideia de que o criminoso sai pior do que entrou.

Ao passo que aumenta-se o oferecimento da liberdade de ação, contribui-se para a elevação das variedades nas relações humanas, o que implica em maiores recursos dos agentes individuais. O que certamente proporciona mais democracia à nação, ao invés da burocracia (brasileira).

No sentido de que, ao considerar democracia “de todos para o todo”, a possibilidade de o indivíduo estabelecer suas relações e suas vontades movidas a partir de suas próprias concepções, haverá então a legítima participação dele para com os outros, formulando o ideal de coletividade que é a força dos desejos de cada um.

Humboldt explica que para que isso ocorra é preciso haver uma política cultural adequada para que melhor dê-se as relações entre os indivíduos. Diversamente do que ocorre no governo brasileiro. Hoje, e não só hoje, conhece-se o populismo na condução das políticas de comando, no modo de manter na inércia os desenvolvimentos pessoais. 

“... ele (Estado) pode tentar exercer uma influência sobre seus pensamentos e sentimentos, de modo a conduzir suas inclinações para que estejam em conformidade com os seus desejos...” (Humboldt, p. 154)

No Brasil, e outras nações, ocorre a chamada (por mim) de representatividade limitada. Em “Governo representativo”, Stuart Mill explica que ao considerarmos um governo onde este é baseado em voto igual e universal, cada base elege os seus por maioria simples e, por assim o parlamento representa uma pequena maioria, as medidas propostas no mesmo parlamento são aprovadas por uma maioria dentro do mesmo e, certamente nem a maioria que elegeu esses que aprovam tal medida, estão de acordo com o resultado e, mesmo que estejam, e a outra parte do povo que nem representação tem? Não poderá ter voz alguma nas decisões que teoricamente deveriam emergir de todo o povo para o povo todo?

É lícito que nem mesmo a “pseudo-democracia” baseada em maioria simples consegue ser assim concretizada e, que, portanto, o regime democrático amplamente utilizado, vive dentro de uma imensa onda utópica, confirmando a real figura do governo, no qual se baseia em prerrogativas para uma verdadeira minoria.

“Não há democracia dita e feita no Brasil, não se engane”.

Na avaliação das forças política, estatal e pública, Humboldt demonstra que toda regulamentação promove em graus distintos coerções sobre a vida do homem, a fim de interferir e até inibir o desenvolvimento de suas relações. 

Não é louvável que se discuta (qualquer assunto) independente da ótica e da conclusão a que se chega. Humboldt lembra que aquele que apenas crê, está apto a permanecer num possível erro, ao distanciar-se daquele que investiga, questiona.

A íntima relação entre religião e Estado é necessariamente perigosa, as religiões são estabelecidas a partir de “verdades inquestionáveis”, o que propõe a nacionalização e unificação do pensamento, ordenação e por isso, a opinião pública seria tão somente fruto de alguns grupos, sem a plena contribuição do caráter individual, como afirma Walter Lippmann.

Não é saudável permitir que os conceitos de uma religião específica determinem as regras gerais num grupo que trate sobre Direitos Humanos, inclusive, obre a evidente inadequada concepção de relações humanas apresentadas pelo deputado Marco Feliciano. 

A religião não determina o caráter individual, a moral está abastada da direta relação entre a religião, é só relembrar as ações promovidas pelas religiões ao longo da história e mesmo hoje, na era “pós-moderna”.

Humboldt não pensa sobre nenhuma revolução, não é de vital importância promover mudanças totalizadas no âmbito do Estado. É tão somente valorizar a supremacia de cada ser para promover a própria coletividade. Pois, o Estado não deve adotar políticas que visem o bem-estar da nação, posto que isso faria as regras de um governo avançar para o totalitarismo, o que supre inevitavelmente a natureza individual.

Regular a mídia; estabelecer regras que impendem diretamente o livre consumo; o mercado como um todo, prejudicado pelas amarras do governo brasileiro, deixa de crescer, de contratar e por assim dizer, oferecer melhor qualidade de vida as pessoas. 

A monopolização crescente das forças políticas/partidárias no Brasil está amparada inequivocadamente ao populismo, amplamente utilizado como força de coibir a liberdade de ação dos seus cidadãos, até mesmo por meio da crença nas “boas intenções” do Estado.

Humboldt não nasceu enxertado do pensamento liberal, mas em contrapartida, atuou na vida pública na Alemanha, presenciou os avanços políticos e sociais da revolução francesa. Assim como Frederick Hayek, foi ao decorrer das experiências aperfeiçoando suas ideias a cerca da figura do Estado.  

Hayek, que pelo que dizem alguns, denominou Humboldt como "o maior filósofo do pensamento liberal", mesmo que não seja, Humboldt pensou e começou a enxergar a natureza, o caráter e a importância de cada um, que pode suprimir em decorrência de interesses escusos, do poder pelo poder.

Não importa o quão complicado pareça ser, mas poder se conscientizar que seus ideais, suas vontades estão sem espaço diante da força de uma instituição da qual você mantém, é no mínimo prejudicial para sua própria vida. A liberdade é uma questão de poder ser você mesmo naquilo que você acredita e não na crença que o Estado lhe outorga.






domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre Justiça


"Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo."
(Albert Camus)

A princípio, justiça necessariamente no campo jurídico implica basicamente em igualdade de direitos. Ocorre que justiça vai muito além das leis do regime democrático.

Basta pensar que a própria igualdade pode ser injusta do ponto de vista individual, a igualdade pensada sobre o regime democrático de direito, exatamente por conter injustiça na democracia.

Ou será justo prevalecer sempre a voz da maioria? E se a maioria estiver errada? Se a minoria não tem o direito de decidir, onde há igualdade? A minoria precisa ter pelo menos o direito de ser ouvida, e talvez mude o pensamento (também talvez) errôneo da maioria. Neste caso é a democracia injusta subtraindo o direito de alguns.

Sob esse ponto de vista, é injusto pensar na importância da individualidade? Mas se somos pessoas diferentes, divergimos em algo aqui e acolá, logo, supõe-se que não existam duas pessoas exatamente iguais em pensamento.

Portanto, individualismo parece-me mais justo do que simplesmente adotar dicotomias gerais entre o que é justo ou o inverso, que facilmente encontrarão argumentos divergentes.

Justiça passa então para o campo da subjetividade, o que não significa que seja impossível defini-la. O que não se trata de definir que a justiça deva ser necessariamente individualista, mas que partir tão somente do pressuposto de igualdade (ou tão necessariamente democrática) arbitrariamente não deve ser justo.

O filósofo John Rawls, conhecido por sua obra “Uma Teoria da Justiça” cujo ensaio possui um caráter emblemático, adotou a liberdade e a igualdade para definir seu ideal de justiça. 

Rawls, parte do contratualismo de Rousseau e atribui valoração às instituições que, segundo ele, são responsáveis por legitimar o caráter igualitário ao corpo social, mas para isso, as instituições precisariam ser justas.

No entanto, Rawls considera o princípio da liberdade superior ao princípio de igualdade, o que poderia definir sua teoria da justiça em “liberalismo igualitário”. Ocorre que outros pensadores da filosofia política, adotando outras correntes, lançaram críticas à teoria de Rawls.

Como Robert Nozick, que foi seu colega em Harvard, critica o teor igualitário. Este último, um autor libertário, defende um Estado mínimo, destinado tão somente a proteger seus cidadãos do uso ilegítimo da força, que defenda o contratualismo firmado entre esses cidadãos.

No entanto, Nozick não defende a inexistência do Estado, posto que isso acabasse com direitos fundamentais para garantir a liberdade, por exemplo. O que é fundamental que se pense.

Mas há, retomando as formas de Hegel, um caráter esquerdista mais conversador de alguns autores cujo discurso se assemelha ao comunitarismo. Mais contemporâneo, há Michael Sandel, defensor desta corrente, que atualmente é professor de Harvard, há 30 anos no curso de Justiça, esteve em agosto deste ano no Brasil, realizando palestras.

Sandel critica a forma dita por Rawls de que as pessoas “escolhem” seus fins, seus objetivos de vida. De acordo com Sandel, justiça é fazer o que é certo, e o certo é pensar o ser em comunidade. 

Na internet há facilmente vídeos onde o professor cita o filósofo Kant como alguém que defendia a dignidade das pessoas... A justiça para Sandel é algo inserido necessariamente no conjunto social.
Após várias críticas sobre a sua teoria da Justiça, Rawls lançou outra obra “O liberalismo político”, era um aperfeiçoamento de sua teoria de justiça.

Nozick, Sandel e Ralws são apenas três exemplos do quanto a teoria sobre a justiça está passível de mudanças. E aí abre-se espaço para pensar: Será que a relação entre pobres e ricos é realmente injusta? É justa a igualdade de direitos? E os direitos, são mesmo justos? Será que nós sabemos o que realmente é justiça? Será que duvidar do teor justo da justiça é injusto?

Até as leis são passiveis de diversas interpretações, é por isso que a justiça, como um dos alicerces do Estado, é tão relativizada. É trivial parar para pensar sobre como ser justo com a justiça de si e dos outros.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Futuro (Próximo) do Planeta





Um importante passo foi tomado com a aprovação da ONU (Organização das Nações Unidas) para a Palestina se tornar Estado observador não-membro, recentemente. Que, embora tenha um valor, sobretudo, simbólico, poderá contribuir para a formação dos dois Estados que, em tese, poriam fim aos conflitos entre israelenses e palestinos.

Porém, Israel e Estados Unidos, por exemplo, acreditam que a aprovação na instituição não influenciará na formação de dois Estados.  O conflito militar, que há poucos dias se intensificou após a morte do chefe do braço militar do Hamas, Ahmed Jabari, por um ataque do exército israelense, é importante para o futuro do globo.

Os desdobramentos dessas ofensivas poderão interferir e alterar o cenário conflituoso entre árabes e israelenses em alguns anos.

A economia guiada por diretrizes globais, aos poucos vai modificando a geopolítica entre os países, e o mundo nas próximas décadas poderá ser nitidamente distinto do que se conhece hoje.

O planeta caminhará cada vez mais de acordo com a velocidade do capitalismo informacional, este que estará assentado na incrível evolução da tecnologia dando respaldo principalmente à tecnologia da informação que, condicionará o comportamento das sociedades cada vez de forma mais intimista.

Já em 1997, o filósofo da informação, o francês Pierre Lévy publicou sua mais conhecida obra, chamada “Cibercultura”, onde demonstra o quanto o caminho seguido pela humanidade toma por base a relação sociedade e mundo virtual.

Deste modo, os países que dispuserem de maior poder tecnológico, muito provavelmente terão força entre as nações, também pelo fato da tecnologia possibilitar o desenvolvimento de armamento militar sofisticado e até de alcance global.

O Diretor de Pesquisa do Google, Peter Norvig, afirmou que em 2020 o conteúdo da internet será uma mistura de texto, fala, imagens estáticas e móveis, além de narrativas de interações entre pessoas. (Folha).

Estimativas indicam que a economia global será 80% maior em 2020 do que foi em 2000. Nos últimos anos os países asiáticos figuram o cenário mais promissor do crescimento econômico no planeta, em especial a China, que já é ponto crucial das preocupações do mundo para as próximas épocas.
Alguns afirmam que a comunidade internacional trabalha com incertezas quanto às reais intenções da China, que já em 2012 vai se impondo aos vizinhos (inclusive Japão) com seu poderio econômico e militar cada vez mais forte para anexar à sua área, regiões próximas para tornar-se ainda maior.

A Ásia se assusta com as disputas territoriais protagonizadas pelos chineses. Hoje, eles disputam regiões das Filipinas, Japão, Malásia, Taiwan e diversas pequenas regiões próximas. O que pode aproximar esses países dos EUA.

O país é o centro das atenções porque provavelmente mudará a ordem econômica mundial de forma bastante significativa. Segundo o FMI, em 2016 o Produto Interno Bruto (PIB) chinês medido pelo critério de poder de compra atingirá U$ 19 trilhões e superará o americano (US$ 18,8 trilhões). (Terra).  

Todavia, de acordo com o Banco Mundial, em 2011 o PIB chinês ficou em US$ 7,318 trilhões de dólares, o americano em US$ 15,09 trilhões. Já o brasileiro foi registrado em R$ 4,143 trilhões de reais, de acordo com o IBGE.

Apesar do incrível crescimento dos países asiáticos, qualitativamente não acompanharão o dos EUA e outros países ricos, em aproximadamente oito anos, a classe média chinesa ainda será muito menor que a classe média americana.

A China possui um problema grave, sua população já está em processo de envelhecimento, além de ser uma população bastante numerosa, em breve o país terá que pensar como agir em relação aos habitantes fora do mercado de trabalho por conta da idade, problemas sociais possivelmente influenciarão no crescimento do gigante asiático.

Outro país que emerge no cenário mundial é a Índia, junto com os chineses, são as promessas que configuram os dois novos gigantes políticos e econômicos mundiais asiáticos. Alguns especialistas afirmam que entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) apenas a Índia terá um crescimento robusto em 2012.

Em 2020, há a perspectiva de que a privatização de estradas e da infraestrutura no Brasil será cada vez maior, a política e economia ficarão cada vez mais distantes, exatamente pelo desenvolvimento progressivo de atividades ligadas ao setor privado e o país certamente será uma potência mundial.

Especialistas afirmam que em breve a China precisará aumentar em 150% o consumo de energia para manter o ritmo de seu crescimento, enquanto que a Índia precisará do dobro disso, desse modo, empresas desses países buscarão investir em regiões da Rússia (fundamental para o abastecimento de petróleo e gás para a Europa), América do Sul e Oriente Médio, este último é um campo de incertezas pelas constantes tensões na região.

“O fortalecimento da identidade mulçumana criará uma estrutura para a disseminação da ideologia islâmica radical, tanto dentro como fora do Oriente Médio, incluindo regiões como a Europa Ocidental, o Sudeste Asiático e a Ásia Central.” “a antiglobalização e a oposição às políticas norte-americanas podem reunir um grande número de simpatizantes, financiadores e colaboradores dos terroristas”. (O Relatório da CIA).

Em 2010, o grupo WikiLeaks vazou um relatório da CIA (Agência Central de Inteligência) que cita diversos casos de cidadãos americanos que estariam financiando atividades terroristas.

A expectativa é que a tecnologia seja a chave para o desenvolvimento de diferentes vias para a prática do terrorismo interno e internacional. A tendência é que a Al Qaeda ceda espaço para outros grupos mais fortalecidos pelo financiamento da fabricação de armas, inclusive de destruição em massa.

A divisão entre cristianismo e islamismo no Sudeste da Ásia será cada vez mais assimétrica. O que contribuirá para a instabilidade de grupos radicais islâmicos terroristas.
Grupos mais difusos como Hamas, Jihad, Hizbollah usarão a tecnologia para planejar ataques de frentes tradicionais (armas convencionais), como o bioterrorismo, químico, nuclear e cibernético.

“Embora nenhum outro país chegue perto de rivalizar o poderio militar norte-americano em 2020, mais nações estarão em posição de fazer os EUA pagar um alto preço pelas ações militares que vierem a realizar.” Hoje, o que vem incomodando parte da comunidade internacional é a possível aquisição de armas biológicas, químicas ou nucleares por Irã e Coréia do Norte”. (O Relatório da Cia).

E é exatamente a força militar que mantém os Estados Unidos à frente das relações internacionais.  Num futuro próximo o mundo será também asiático, porém será fragmentado no que se refere às forças políticas. A China é a promessa de potência mais rica, porém preocupa especialistas a possibilidade do país não ter condição política de comportar-se como potência hegemônica, o que poderá manter os norte-americanos ainda à frente a política internacional.

A ética, o meio ambiente, a segurança, a tecnologia e outros temas deverão ser prioritários dentro da opinião pública.  O Brasil, a Indonésia e alguns países do Sul da África também estarão em status de potências econômicas. A política que será definida pela nova ordem mundial, que aos poucos vai se arrumando, sugere que a mudança mais importante seja realmente o fim da hegemonia americana.

A globalização será responsável pela íntima relação entre Ocidente e Oriente, e paradigmas baseados na divisão do mundo (pós Guerra Fria) em Norte e Sul, poderá sofrer uma inversão de valores geograficamente falando. É o futuro do planeta adotando novas ordens.